Falar de aborto, tanto no Brasil como em outros países ao redor do mundo, ainda é uma pauta carregada de estigmas e tabus. Os preconceitos ligados ao tema ganham força a partir de pensamentos conservadores de uma sociedade que ainda prioriza crenças particulares em detrimento do direito da mulher e de um problema de saúde pública.
Entretanto, compreender a realidade social que cerca a pauta pode trazer elucidações, viabilizando um cenário em que os direitos da mulher são assegurados. E, para isso, é preciso também compreender o funcionamento das alternativas existentes hoje quando se fala no tema.
Afinal, o que é o como funciona a pílula abortiva?
Em contrapartida às clínicas clandestinas de aborto que colocam a vida de inúmeras mulheres em risco, a descoberta de medicações que induzem o aborto viabilizou como uma alternativa mais segura. O Misoprostol, medicamento em geral comercializado com o nome de Cytotec, foi originalmente introduzido pela indústria farmacêutica para o tratamento de úlceras gástricas. Mas não demorou muito para que as mulheres identificassem os efeitos colaterais do remédio.
No caso do Cytotec (ou outras marcas de Misoprostol), por exemplo, ocorrem contrações do útero e a abertura do colo, podendo induzir o parto ou o aborto. Por conta dessa descoberta, na década de 90, a medicação começou a ser vendida apenas com receita médica no Brasil. Além disso, o estigma em torno do medicamento também cresceu.
A pílula permite que a pessoa administre o uso de forma independente, sem a necessidade de uma intervenção médica, já que ela ocasiona um aborto induzido de forma segura. O Misoprostol, quando usado nas 12 primeiras semanas da gravidez, tem 80-85% de eficácia. Se usado em combinação com a Mifepristona, garante uma taxa de sucesso ainda maior, com uma quantidade menor de medicamentos.
Além de ser uma alternativa eficaz, a pílula também é o método mais seguro de realizar um aborto, garantindo o direito de escolha de mulheres e pessoas com útero sobre a própria vida reprodutiva.
Apesar de seguro, por quê é proibido?
Em uma sociedade conservadora e em países como o Brasil, majoritariamente religioso, em que 51% da população é católica, é impossível ignorar a influência disso em relação aos direitos das mulheres, por exemplo. E, ao falar de aborto, é fundamental compreender como os valores religiosos e conservadores se sobrepõem à ciência, à saúde pública e à autonomia reprodutiva da mulher.
No Brasil, o aborto legal, sem limites de semanas de gravidez, já é um direito garantido diante de três cenários: de gestação decorrente de estupro, risco de vida à gestante e anencefalia fetal. Mas por que não garantir o direito do aborto legal e seguro em todos os casos? A quem interessa controlar os corpos das mulheres e pessoas com útero no geral?
O conservadorismo abrange uma lógica que não se sustenta e até mesmo reitera, de alguma forma, a possibilidade da pílula abortiva como uma alternativa possível. A suposta proteção à vida, tanto defendida por conservadores, ignora o valor da própria vida das pessoas que recorrem a abortos de forma clandestina e, muitas vezes, insegura.
O patriarcado tenta controlar o poder de escolha de mulheres se baseando na proteção à vida, sendo que a verdadeira preservação à vida é a possibilidade de um aborto seguro. De forma clandestina, os riscos de complicações só aumentam. De acordo com apuração do veículo Gênero e Número, o Brasil tem uma morte a cada 28 internações por falha na tentativa de aborto.
A utilização de pílulas abortivas é, na verdade, uma forma de proteger a vida das mulheres, trazendo informação, conhecimento e autonomia de decidir sobre o direito reprodutivo e seus próprios corpos.
Alternativa viável
Ao longo dos anos, a pílula abortiva tem sido cada vez mais difundida e tem chegado às pessoas com útero com maior facilidade. Mas o debate precisa ir além, por que deixar o problema velado se a população não vai deixar de procurar formas de interrupção de gestação, sendo que com o suporte necessário os riscos diminuiriam?
Mesmo de forma ilegal, mulheres abortam interdepende do país, da classe social e raça. O que muda é apenas a segurança e o tipo de atendimento oferecido a essas pessoas. E a difusão da pílula abortiva tem trazido mais tranquilidade no processo para essas pessoas.
Hoje, rede de mulheres em todo o mundo auxiliam umas às outras na procura e na obtenção da medicação. A luta feminista tem trazido avanços no quesito de acesso a pessoas que vêm no aborto uma forma de exercer sua autonomia sobre o próprio corpo.
Para saber mais sobre como realizar o uso de pílulas abortivas da forma correta, acesse as instruções do How To Use Abortion Pill ou converse com Ally, a chatbot de aborto seguro.